09 FEV 2019

Filha!

À beira-mar, de costas para a praia, Jesus tinha diante de si uma multidão que se apertava para ouvir a sua voz. É assim que inicia a passagem de Marcos 5,21-34, sobre a qual descreverei.

Hoje iremos escutar essa passagem do Evangelho a partir de duas pessoas centrais que aparecem no texto: Jairo e a mulher com hemorragias.

Deixemos Jairo falar o que sentiu naquele dia: Cheguei correndo, suado, aflito. Não me incomodei com a multidão, nem me perguntei se ia causar um vexame e passar vergonha. Gritei: Mestre, por favor, venha logo!

Ele estava falando para a multidão. Parou, virou-se para mim e olhou-me como que querendo saber o porque de toda aquela pressa. Eu gritei bem forte: Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as mãos sobre ela... antes que ela morra!

Ele simplesmente deixou todos, por mim. Me acompanhou. Mas a multidão ia atrás.

Ah! Aquela gente me incomodava, pois impedia apressar a caminhada como eu gostaria na direção da minha casa. Qualquer demora poderia ser fatal. Eu só pensava na minha filha que estava morrendo.

De repente uma mulher atrapalhou tudo. Era uma mulher com hemorragias! Ela fez o Mestre parar e nos fez perder um tempo que parecia uma eternidade.

Agora, deixemos a mulher que sofria hemorragias nos descrever o que ela sentiu: Quanta vergonha e quanto medo eu passei naquele dia! E também quanta alegria e felicidade!

Eu estava no meio da multidão, me estiquei toda e consegui alcançar e tocar a barra de seu manto com toda a minha confiança, pensando: Ele vai me curar! E... senti na hora que estava curada. Uma alegria imensa me invadiu o coração. Mas, foi só por um instante. Logo senti medo e vergonha.

O Mestre imediatamente parou e perguntou em voz bem alta: Quem me tocou? Eu gelei! Eu esperava que ninguém tivesse notado. E agora o que vai acontecer? Fazia muito tempo que eu queria encontrá-lo. Mas tinha vergonha. Tocá-lo, nem pensar!

Fazia muito tempo que minhas energias sumiam com o sangue. Tinha gasto tudo o que tinha, eu não sabia mais a quem pedir ajuda. A hemorragia não parava e estava secando minhas veias. Eu ficava pensando: ele curou os leprosos, surdos, cegos, será que não poderia curar também a mim, impura como uma leprosa?

E Ele me curou! Mas os discípulos pareciam chateados com a pergunta que o Mestre fez. E responderam: O Senhor não vê que todos estão empurrando? Nós fazemos o que podemos para protegê-lo. Mas, não podemos controlar tudo!

Diante daquela fala do Mestre eu tive a certeza de que Ele estava me procurando no meio do povo. De fato, Ele parou e corria o olhar sobre todos.

Então caí na realidade e pensei: O que foi que eu fiz? Como tive a ousadia de fazer isto? Eu impura tocar nele? Agora não podia mais me esconder. Eu sabia que Ele sabia. Só me restou cair a seus pés e revelar tudo. Mas Ele, me olhando com carinho e a ternura de Deus, me disse:

Filha, tua fé te salvou. Vá em paz e fique livre da sua doença!

Vocês não podem imaginar a minha alegria. Eu não sabia se pulava, se cantava, eu queria falar tudo de uma vez, a minha boca não vencia falar tudo, mas eu queria contar pra todo mundo: O Mestre me curou! Sim! Ele me curou!

Com aquelas palavras, Ele me revelou algo muito mais profundo. Ele me disse: “Filha”.

E eu me senti como sua filha, até hoje saboreio nos meus ouvidos aquela palavra.

Concluo com uma pergunta central em nossa vida: você se sente filho ou filha de Deus? Se não ainda, peça esse dom para Deus.

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